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domingo, 2 de julho de 2017

A Sociologia e o mundo do trabalho (aula 2º´s anos)

A Sociologia, como sabemos, encontra-se subdividida em diversas áreas, que embora tenham princípios muito semelhantes diferem especialmente em seu objeto central de estudo. Se a Sociologia volta-se para análises da sociedade, da vida em sociedade e das relações sociais, a especificidade do ramo da Sociologia do Trabalho está no fato de esta voltar-se mais particularmente para a busca da compreensão da organização e evolução do mundo do trabalho na sociedade, as relações de trabalho e as implicações sociais dos mesmos.

A Sociologia do Trabalho e a História

Historicamente sabe-se que o trabalho já foi considerado uma atividade extremamente depreciável. Os gregos da antiguidade clássica consideravam que o ócio criativo era digno apenas de homens livres, e também somente esses homens livres estariam aptos para dedicar-se a vida pública e a erudição. De outro lado estavam os escravos, que se dedicavam as atividades cotidianas, aos cuidados com afazeres domésticos e etc. Assim foi durante muito tempo, visto que se considerava a escravidão como a mais adequada relação laboral.

As transformações pelas quais o mundo do trabalho vem passando desde então são importantíssimas para que se compreenda a organização atual dessas relações, bem como as preocupações dos sociólogos dessa área. Desde o escravismo antigo, passando pelo artesanato, servidão, e tantas outras formas de trabalho até chegarmos aos moldes do trabalho industrial no mundo moderno acarretaram transformações que dizem respeito à própria vida em sociedade, organização desses sujeitos e relações de poder entre os proprietários dos meios de produção e aqueles que vendem sua força de trabalho.

O impacto de novas tecnologias no mundo do trabalho, novas formas de organização, obsolescência de diversas profissões, o aumento do mecanismo de exclusão, a exigência de cada vez mais qualificação da mão de obras são fatores ainda presentes e que nos mostram o quanto o mundo do trabalho ainda encontra-se em contínuo processo de transformação. Contudo, o advento do capitalismo e as bruscas transformações acarretadas pela revolução industrial são ainda o grande ponto de transformação da lógica do trabalho.

Influências

Essa divisão da Sociologia em áreas é muito posterior. Mas isto que hoje conhecemos como Sociologia do Trabalho sofre importante influencia de grandes nomes da Sociologia, como Marx e Durkheim que já pensavam as transformações nas relações de trabalho, na luta de classes, na vida do trabalhador e nas relações sociais compreendidas nesse universo.

Uma das grandes críticas que a Sociologia do Trabalho tece ao mundo moderno e ao modo capitalista de produção é de fato a alienação do trabalhador em relação à sua atividade.

Essa critica refere-se a um sistema de produção fragmentado, onde cada vez mais o trabalhador encontra-se forçosamente distanciado do produto de seu trabalho. Distancia-se por estar cada vez mais desenvolvendo uma atividade mínima, especializada e repetitiva, onde muitas vezes desconhece o produto final do qual resulta a junção de tantas pequenas tarefas. E distancia-se também pelo fato de muitas vezes a remuneração por ele auferida ser insuficiente para ter acesso àquilo que é produto de seu próprio trabalho.

O trabalhador, no capitalismo, é infinitamente diferente do artesão. Enquanto o artesão tinha total domínio sobre seu locar de trabalho, seus horários, atividades, matérias primas e valor monetário de seu produto o trabalhador hoje se encontra submetido aos horários, condições e atividades pré-determinados pelo patrão, detentor dos meios de produção. As relações nesse sistema são fortemente marcadas pelo poder.

(Integra do texto na fonte)

terça-feira, 27 de junho de 2017

A Sociedade Industrial (aula 1º´s anos)


Como vimos, a nova que surge, a "sociedade industrial", esta fundamentada em alguns elementos, dos quais destacamos o Cientificismo, o Contrato Social, a Razão e o Eurocentrismo.

Cientificismo: crença no poder absoluto exclusivo da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. 

Positivismo (Augusto Comte 1798-1857)

Concebia a sociedade como um “organismo” constituído de partes integrantes e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico/mecânico. [ “Física Social” ]

Primeira tentativa de construir o objeto estudo, pautar seus métodos e elaborar seus conceitos à luz das ciências naturais.

Darwinismo Social
Cientistas sociais positivistas – combinam as concepções organicista e evolucionista inspirada em Darwin.

Charles Darwin (Teoria da Evolução das Espécies) – As diversas espécies de seres se transformam continuamente com a finalidade com a finalidade de se aperfeiçoar e garantir a sobrevivência. Para isto, os organismos criam formas mais complexas e avançadas de existência que pela “competição natural”, sobrevivem os mais aptos e evoluídos.

Críticas – Transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e das relações entre essas.
Émile Durkheim (1858-1917)
Pai da sociologia acadêmica sistematizou, definiu e aplicou a Sociologia nos espaços acadêmicos da França, no final do séc. XIX.
Europa e a França da 2ª metade do séc. XIX viviam grandes conflitos sociais, com a ocorrência de diversas insurreições e revoluções.

Afirmava que as sociedades são regidas por uma “consciência coletiva”, expressa em “fatos sociais”. Que a sociedade esta na cabeça de cada indivíduo e de todos ao mesmo tempo. A sociedade molda o homem, seus comportamentos, atitudes, ideias e ações.

Fatos Sociais – são os modos de agir dos indivíduos que são introjetados na mente de cada um de nós , exercem coerção (coercitividade), são comum a todos os indivíduos (generalidade), encontram-se também fora deles (exterioridade. Quando uma pessoa nasce, ela encontra fatos sociais já estabelecidos coletivamente, que a seguirão pela vida r que se manterão depois de sua morte.

Consciência Coletiva – O modo como esses fatos são representados na vida de cada um de nós é que definem o que se chama de consciência coletiva. Ela se manifesta através da cooperação entre os indivíduos, ou seja, a divisão social do trabalho. Esta cooperação é dividida em “solidariedade mecânica” e “solidariedade orgânica”.

Solidariedade Mecânica – é típica daquelas sociedades nas quais a divisão do trabalho social é pouco diferenciada, onde todos fazem tudo, se distinguindo somente em alguns papéis sociais em função do gênero (se homem ou mulher) ou de acordo com a idade. Segundo Durrkheim, sociedades que chamou de tribais, com pouco desenvolvimento tecnológico e que exerce poderosa influência sobre os indivíduos.

Solidariedade Orgânica – é típica das sociedades nas quais a divisão do trabalho social é mais diferenciada e complexa, onde os indivíduos estão juntos por fazem coisas diferentes – são interdependentes. São sociedades industriais, com muitas especializações e divisão profissional do trabalho.

FONTE: "Sociologia para Jovens do Século XXI"

domingo, 14 de maio de 2017

Racismo e ciência no Brasil pós-abolição (1888-1930) [aula 3º´s anos]

A Redenção de Cam, pintura de Modesto Brosco, premiada com a medalha de ouro no Salão Nacional de Belas Artes de 1895. Ela reflete a esperança das elites brasileiras num futuro branqueamento da população através da miscigenação. A avó negra agradece a Deus

As ideias pseudocientíficas predominantes na Europa na segunda metade do século XIX influenciaram fortemente a intelectualidade brasileira até a década de 1930. As ideologias racistas, transvestidas de ciência, serviram para justificar as restrições à cidadania da grande maioria do nosso povo, composta de pessoas não-brancas, e buscaram transformar aquilo que seria uma consequência nefasta do nosso processo de desenvolvimento histórico-social em coisa natural. 

Naturalizavam assim a nossa miséria, jogando a culpa nas costas da natureza e do próprio povo, que seria composto por raças e sub-raças inferiores. A igualdade entre os homens, inclusive a formal, passou a ser considerada uma utopia – um sonho irrealizável.

Nina Rodrigues: o negro como marginal

O primeiro grande cientista brasileiro a incorporar as teses racistas modernas foi Nina Rodrigues (1862-1906). Ainda em 1888, ano da Abolição da escravatura, escreveu: “A igualdade é falsa, a igualdade só existe nas mãos dos juristas”. Poucos anos depois, em 1894, publicou um ensaio sobre a relação entre as raças humanas e o Código Penal, no qual defendeu a tese segundo a qual deveriam existir códigos penais diferentes para raças diferentes. No Brasil, por exemplo, o estatuto jurídico do negro devia ser o mesmo de uma criança. Essa teoria é particularmente nefasta, pois apareceu no momento em que os negros recém-libertados lutavam para ocupar um lugar na sociedade de classes como cidadãos portadores de plenos direitos.

Nina Rodrigues era professor de medicina legal na Bahia e foi um dos introdutores da antropologia criminal, da antropometria e da frenologia no país; ou seja, introduziu aqui o que existia de pior na Europa e Estados Unidos. Em 1899 publicou Mestiçagem, Degenerescência e Crime, procurando provar suas teses sobre a degenerescência e tendências ao crime dos negros e mestiços. Os demais títulos publicados também não deixam dúvidas sobre seus objetivos: “Antropologia patológica: os mestiços”, “Degenerescência física e mental entre os mestiços nas terras quentes”. Para ele, o negro e os mestiços se constituíam em chagas da nossa nacionalidade.
Sua grande obra foi Os Africanos no Brasil, coletânea de textos escritos entre 1890 e 1905 – publicada postumamente. Estes foram os primeiros grandes estudos sociológicos sobre a presença negra na cultura brasileira e, contraditoriamente, os mais importantes trabalhos baseados no chamado racismo científico publicados no final do século XIX e início do século XX

Segundo o renomado cientista baiano, a inferioridade do negro – e das raças não-brancas – seria “um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade nas suas diversas divisões e seções”. No Brasil, os arianos deveriam cumprir a missão de não permitir que as massas de negros e mestiços pudessem interferir nos destinos do país. “A civilização ariana está representada no Brasil por uma fraca minoria da raça branca a quem ficou o encargo de defendê-la (…) (dos) atos antissociais das raças inferiores, sejam estes verdadeiros crimes no conceito dessas raças, sejam, ao contrário, manifestações do conflito, da luta pela existência entre a civilização superior da raça branca e os esboços de civilização das raças conquistadas ou submetidas”. Talvez, nunca antes alguém tenha defendido com tanta ênfase a repressão aberta e o controle social sobre as camadas populares, representadas pelas populações não-brancas. A grande ironia foi o fenótipo de Nina Rodriges não ter conseguido esconder sua descendência africana, portanto, sua condição de mestiço.

Oliveira Vianna: o racismo decadente

Oliveira Vianna (1883-1951) foi professor da faculdade de direito do Rio de Janeiro e, em 1920, iniciou a publicação do seu primeiro e mais importante trabalho Populações Meridionais do Brasil. Logo em seguida elaborou o ensaio de apresentação do censo oficial de 1920, Evolução do Povo Brasileiro. Estas duas obras o projetaram no cenário intelectual brasileiro. Após a Revolução de 1930 foi indicado para consultoria jurídica do Ministério do Trabalho e ajudou na elaboração da nova legislação sindical e trabalhista.


Ele foi o último grande expoente do racismo pseudocientífico brasileiro. No seu primeiro livro não deixou dúvidas sobre quais eram suas referências teóricas mais importantes: “o grande Ratzel” e “os gênios possantes e fecundos” dos Gobineau e Lapouge (ambos racistas). Vianna foi, essencialmente, um apologista das oligarquias rurais brasileiras, procurando reconstruir idealmente como teriam sido os primeiros colonizadores

Em Evolução do Povo Brasileiro lançou a tese de que os bandeirantes paulistas eram perfeitos arianos: altos, fortes, loiros e de olhos claros. Essas descrições sobre o passado das elites tradicionais brasileiras não passavam de puras fantasias reacionárias.

Oliveira Vianna, no entanto, não deixa de ser uma figura anacrônica. Foi o ideólogo do racismo, quando este já começava a ser questionado nos países capitalistas centrais e quando já se encaminhava para a publicação o livro Casa Grande & Senzala (1933) de Gilberto Freyre. Como afirmou Dante Moreira Leite, “a obra de Oliveira Vianna não resiste a qualquer crítica, por mais benevolente que o leitor procure ser”, pois ele “não tinha dotes de observador ou de teórico. O que nele parece teoria é imaginação gratuita, grosseira deformação dos fatos e teorias alheias”.

Já no início do século XX, alguns intelectuais lúcidos submeteram o racismo de nossas elites a uma crítica mordaz, entre eles Manuel Bomfim. O intelectual sergipano escreveu: “Tal teoria (racista) não passa de um sofisma abjeto do egoísmo humano, hipocritamente mascarado de ciência barata, e covardemente aplicado à exploração dos fracos pelos fortes”. Afirmações como estas explicam por que um pensador tão avançado tenha sido marginalizado pelas elites políticas e intelectuais da época, que desposavam teorias anticientíficas assentadas em preconceitos sociais e de classe.

Para ler texto completo veja no link abaixo.



domingo, 12 de março de 2017

Onde estão e como vão as mulheres no Brasil (textos 1 e 2 - aula 3º´s)


Democracia no Brasil e participação das mulheres na política: algumas barreiras para o desenvolvimento democrático* (texto 1)

Participação, democracia e mulher, estes três temas geram debates acirrados, principalmente quando presentes no mesmo momento. A participação feminina no processo democrático tem sido considerada importante para o desenvolvimento da mesma, porém encontramos alguns obstáculos para a efetiva participação feminina no campo político. As mulheres representam 51% do total da população brasileira e os homens 49%, segundo o Censo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2010, o crescimento da população feminina no Brasil é crescente, de acordo com os censos realizados desde a década de 1980, mas esses números não refletem proporcionalmente no campo político. Nas eleições de 2010, conforme dados apresentados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disputaram para deputados federais 4.904 candidatos, destes apenas 945 (19,06%) candidaturas eram de mulheres, e eleitas apenas 45 (4,07%) candidatas ao cargo de deputada federal. Enquanto as candidaturas masculinas houveram 3.969 (80,93%) e eleitos 468 (11,79%) candidatos a deputados federais. Portanto, num comparativo, dos 513 eleitos ao cargo, 91,22% eram homens e apenas 8,77% eram mulheres.

Participação Feminina e o campo político 

Há uma problemática entorno da sub-representação feminina no campo político, o que aumenta o debate sobre a importância do equilíbrio da participação feminina na democracia, uma vez que, segundo Almeida; Lüchmann e Ribeiro (2012) a participação feminina impacta diretamente na formação de “agendas temáticas decisórias”, onde através de análises de pesquisas realizadas nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países latino-americanos apontam que a participação das mulheres nos processos decisórios, em comparação com a participação masculina, tende a dar maior atenção a grupos mais socialmente vulneráveis, como idosos, crianças, deficientes e as próprias mulheres, os autores alegam que a sub-representação feminina alicerça as injustiças de duas maneiras, primeiro a desproporcionalidade entre a população feminina e o grupo político feminino, nos dando um claro exemplo de que nem toda minoria política significa uma minoria social.

O processo de autorização e responsabilização que constitui a prática representativa não deve enfim ser confinado aos organismos públicos oficiais. Já assinalei aqui que a livre associação da sociedade civil contribui para a formação e a expressão de interesses e opiniões. A sociedade civil também é uma importante instância de consolidação e expressão de perspectivas sociais. Ademais, a organização e a mobilização nas esferas públicas da sociedade civil estão entre os meios mais efetivos de se manter as conexões entre representantes e eleitores, e de se efetivar a prestação de contas dos representantes. Aprofundamos a democracia quando encorajamos o florescimento das associações que as pessoas formam de acordo com os interesses, opiniões e perspectivas que consideram importantes. As atividades autônomas e plurais das associações civis propiciam aos indivíduos e aos grupos sociais, em sua própria diversidade, uma inestimável oportunidade de serem representados na vida pública.

Há uma formação de estereótipos em relação à participação das mulheres no campo da política como Biroli (2010), onde a autora afirma que existe uma naturalização quanto à exclusão das mulheres na esfera pública, sendo utilizada como argumento de legitimação para o que a autora chama de “negócio de homens”, ela demonstra que o argumento é levantado da seguinte forma, onde “as mulheres não se interessariam pelos debates políticos e, menos ainda, por participar da política institucional porque estariam ‘naturalmente’, voltadas para o que lhes seria mais caro: a vida privada, a esfera doméstica, a maternidade.” (p. 274), a autora se baseia em Carole Paterman (1993) para explicar esse fenômeno, onde Paterman aponta que o gênero é o principal elemento sobre as definições modernas na oposição público-privado, e que é, portanto o eixo central para o debate. Para tal, a autora argumenta que 

“Para se compreender o patriarcado moderno, inclusive as relações econômicas capitalistas, é necessário ter em mente o contrato entre o patrão e empregado e entre senhor e escravo, além da considerar a relação entre o contrato “personalizado” na esfera privada e o contrato “impessoal” no mundo público do capitalismo.” 

* Trabalho apresentado no 1ª Seminário Internacional de Ciência Política, na UFRGS, em 2015. Veja a integra na fonte.


Estudo mostra desigualdades de gênero e 
raça em 20 anos no Brasil (texto 2)
As mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens por semana. Em 2015, a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas, enquanto a dos homens era de 46,1 horas. Em relação às atividades não remuneradas, mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas – proporção que se manteve quase inalterada ao longo de 20 anos, assim como a dos homens (em torno de 50%). Esses são alguns dos dados destacados no estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Divulgada nesta segunda-feira, 06/03, a pesquisa faz parte de um projeto realizado pelo Ipea desde 2004 em parceria com a ONU Mulheres.

“É importante ressaltar que o fato de exercer atividade remunerada não afeta as responsabilidades assumidas pelas mulheres com as atividades domésticas, apesar de reduzir a quantidade de horas dedicadas a elas. As mulheres ocupadas continuam se responsabilizando pelo trabalho doméstico não remunerado, o que leva à chamada dupla jornada”, destaca Natália Fontoura, especialista em políticas públicas e gestão governamental e uma das autoras do trabalho.

Quanto mais alta a renda das mulheres, menor a proporção das que afirmaram realizar afazeres domésticos – entre aquelas com renda de até um salário mínimo, 94% dedicavam-se aos afazeres domésticos, contra 79,5% entre as mulheres com renda superior a oito salários mínimos. Em situação inversa estão os homens. A parcela dos que declararam realizar trabalho doméstico é maior entre os de mais alta renda: 57% dos que recebiam de 5 a 8 salários mínimos diziam realizar esses afazeres, proporção que cai a 49% entre os que tinham renda mais baixa.

Apesar de, proporcionalmente, o rendimento das mulheres negras ter sido o que mais se valorizou entre 1995 e 2015 (80%), e o dos homens brancos ter sido o que menos cresceu (11%), a escala de remuneração manteve-se inalterada em toda a série histórica: homens brancos têm os melhores rendimentos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. A diferença da taxa de desocupação entre sexos também merece registro: em 2015, a feminina era de 11,6%, enquanto a dos homens atingiu 7,8%. No caso das mulheres negras, ela chegou a 13,3% (e 8,5% para homens negros).

Chefes de família e reconfiguração nos arranjos familiares

Os lares brasileiros, cada vez mais, estão sendo chefiados por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%. Cabe ressaltar que as famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas, havia a presença de um cônjuge.

Paralelamente ao aumento do número de famílias chefiadas por mulheres, houve uma gradativa reconfiguração dos tipos de arranjos familiares. Se, em 1995, o tipo mais tradicional, formado por um casal com filhos, respondia por cerca de 58% das famílias, em 2015 esse percentual caiu para 42%, tendo aumentado de maneira significativa o número de domicílios com somente uma pessoa e também o percentual de casais sem filhos.

Menos mulheres jovens como trabalhadoras domésticas

A quantidade de trabalhadoras domésticas com até 29 anos de idade caiu mais de 30 pontos percentuais no período analisado: de 51,5% em 1995 para 16% em 2015. No entanto, o emprego doméstico ainda era a ocupação de 18% das mulheres negras e de 10% das mulheres brancas no Brasil em 2015. Já a renda das domésticas saltou 64% nesses 20 anos, atingindo o valor médio de R$ 739,00 em 2015. Porém, mesmo com esse crescimento, ainda estava abaixo do salário mínimo, que, à época, era de R$ 788,00.

O número de trabalhadoras formalizadas também aumentou: se, em 1995, 17,8% tinham carteira, em 2015 a proporção chegou a 30,4%. Mas a análise dos dados da Pnad sinalizou uma tendência de aumento na quantidade de diaristas no país. Elas eram 18,3% da categoria em 1995 e chegaram a 31,7% em 2015.

Apesar de estar em queda, diferença de escolaridade entre raças ainda é alta

Nos últimos anos, mais brasileiros e brasileiras chegaram ao nível superior. Entre 1995 e 2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de 3,3% para 12%. Entretanto, o patamar alcançado em 2015 pelos negros era o mesmo que os brancos tinham já em 1995. Já a população branca, quando considerado o mesmo tempo de estudo, praticamente dobrou nesses 20 anos, variando de 12,5% para 25,9%.

Fonte:http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=29526&catid=10&Itemid=9

quinta-feira, 9 de março de 2017

Habitus segundo Pierre Bourdieu* (texto aula 1º´s anos)

A teoria do habitus é produto de uma construção talhada após muito tempo de pesquisa e observação e, articula-se com outros conceitos desenvolvidos por Bourdieu para a análise de realidades sociais especificas. O habitus está na vida cotidiana de todos e é alimentado pelo meio social e pelas interações entre os indivíduos.

O habitus é então um conjunto de ações e reações incorporadas pelas pessoas a partir da vivência em sociedade. Ele não é aprendido, pois surge das interações sociais do meio e molda as atitudes e os pensamentos, não é consciente, mas segue as regras de convivência em determinado campo social, é a matriz cultural internalizada. Para Wacquant(2002, p.102), “... o habitus é um conjunto de desejos, vontades e habilidades, socialmente constituídas, que são ao mesmo tempo cognitivas,emotivas, estéticas e éticas, como ele é elaborado e como opera concretamente”. O habitus é durável, mas sujeito a mudanças a partir de influências que o transformam ou se sobrepõem a ele agindo na sua estrutura estruturante e redirecionando-a.

Como produto de um meio especifico o habitus é alterado sempre o indivíduo transite em outros campos, para entrar no jogo em um campo diferenciado existirão mudanças no comportamento. As regras que regem cada campo específico diferem e, portanto exigem alterações significativas no modo de ação. É necessária uma postura adequada em relação ao local e as pessoas pertencentes ao campo social enquanto o indivíduo permanece naquele campo.

A incorporação do habitus está condicionada ao campo, então existe uma dependência entre as duas noções. Os conceitos são entrelaçados e interdependentes,pois, um campo é também determinado pelas pessoas, suas atitudes e posturas.

O campo social é um espaço determinado pelas pessoas que pertencem a ele e que possuem características e concordâncias às regras determinantes que regem este meio. O habitus é condição e condicionante do campo. Um indivíduo que não tem as características ou não consegue adaptar o habitus para o convívio em grupo será excluído do campo por não possuir pertencimento a esse

O habitus possui características duráveis, mas não imutáveis, existe uma margem de adaptação possível, mas também limitada pela constituição singular na qual foram absorvidos em meios diferenciados e, gerando uma construção híbrida que permite o trânsito do agente por campos diversos, sempre respeitando as regras de cada um deles para conseguir com isso entrar no jogo.

* Trabalho apresentado na VIII Jornadas de Sociología de la UNLP (Univesidade Nacional de La Plata). Veja a integra na fonte.


terça-feira, 7 de março de 2017

A Sociologia como ciência da Sociedade (texto aula 1º´s anos)

Antes de descrever o que os principais autores da Sociologia afirmaram sobre a socialização dos indivíduos é necessário escrever uma breve história da disciplina.

A Sociologia é uma ciência nova, que tem pouco mais de um século de vida. Ela desenvolveu-se, como disciplina acadêmica, em um momento de intensas transformações da sociedade europeia.

Vejamos o que aconteceu na Europa a partir do século XV até o século XIX.

Você já deve ter estudado em História que nesse período ocorrem grandes transformações econômicas: as trocas comerciais se expandiram, os europeus entraram em contato com outros povos, da Ásia, da África e das Américas, intitulado como “descobrimentos” e, por meio de pilhagens e saques, promoveram um acúmulo de riqueza inigualável até aquela época. A expansão marítima foi acompanhada por um grande desenvolvimento das ciências e o florescimento e a expansão da cultura europeia que, a partir do Renascimento, transformou o homem europeu no modelo universal de razão e humanidade.

A partir do século XVIII, com a primeira Revolução Industrial, a produção de mercadorias se expandiu, assim como o crescimento das cidades. Uma nova classe dominante – a burguesia – tornou-se a proprietária das fábricas, das terras, das matérias-primas, apropriando-se do resultado da produção das riquezas a partir das sociedades europeias.

Paralelamente a esse processo, ocorreram grandes transformações políticas. Com o poder econômico da burguesia, os feudos medievais começaram a desaparecer e iniciou-se um processo de surgimento dos Estados Nacionais. Em 1789, aconteceu a Revolução Francesa, que inspirada pelo Iluminismo e sob o lema da “Igualdade, Fraternidade e Liberdade”, declarou que os homens eram todos iguais perante a Lei e tinham direitos universais, lançando as bases políticas do que ficamos entendendo, mais tarde, como cidadania.

Para ilustrar melhor as mudanças que ocorreram nesse período, vejamos alguns quadros comparativos entre a Idade Média e o início dos chamados “Tempos Modernos”.

Fonte: OLIVEIRA. Luiz Fernandes & COSTA. Ricardo C. Rocha, “Sociologia para jovens do século XXI”, Editora Imperial Novo Milênio, Rio de Janeiro, 2010 - págs. 24 e 25. 

domingo, 5 de março de 2017

O pensamento sociológico brasileiro (texto 2 - aula 3º´s)


Obras de Candido Portinari

O pensamento sociológico brasileiro do século passado parecia compreender as mudanças pela qual a estrutura da sociedade passava. Cinco décadas depois, esse pensamento tomou novos rumos e parece ter descartado a produção intelectual daquela geração de sociólogos e estudiosos do Brasil. Para Bernardo Ricupero* “O Brasil continua a ser um enigma, o que provavelmente faz com que ainda sintamos a necessidade de voltar aos autores que enfrentaram essa questão”, destacou ele nesta entrevista que segue. Confira a entrevista.

IHU On-Line - Que tipo de reflexão podemos fazer hoje sobre o pensamento sociológico e político brasileiro se, desde que saímos da ditadura, passamos por governos tão diferentes um do outro e que parecem nunca satisfazer totalmente o povo?
Bernardo Ricupero - Não deixa de ser interessante perceber que o tipo de trabalho que analiso no livro – as chamadas “interpretações do Brasil” – também surge de uma insatisfação, posterior à proclamação da República. Autores como Oliveira Vianna (1) notam o descompasso entre proclamações grandiosas, que deveriam garantir a “coisa pública”, e a persistência de práticas mesquinhas e particularistas. Vão, então, se lançar a realizar grandes explicações do País, espécie de livro que não existiu durante o Império. Outro momento de crise – o pós-1930 – será o mais fecundo para as “interpretações do Brasil”. Não por acaso, são nesses anos que Gilberto Freyre (2), Sérgio Buarque de Holanda (3) e Caio Prado Jr. (4) escrevem seus principais livros.
Diria, portanto, que as crises têm se revelado momentos especialmente frutíferos para nos pensarmos. É como se nessas situações fossemos obrigados a nos perguntar: quem somos e o que queremos ser?

IHU On-Line - Você analisa o pensamento dos principais estudiosos da sociedade e política brasileira. Como acha que Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Celso Furtado veriam, hoje, a educação, a sociedade e a política feita por nós?
Bernardo Ricupero - Um ponto que esses autores e outros, como Caio Prado Jr., Raymundo Faoro (5) e Florestan Fernandes (6), destacam é como nossa história é feita sem rupturas significativas com o passado. Têm, porém, diferentes perspectivas teóricas e políticas para analisar o fenômeno. Assim, o marxista Caio Prado Jr. e o cepalino Celso Furtado (7) destacam a grande continuidade entre a orientação econômica da colônia e da nação que surgirá do pós-independência, que faz com que parte significativa da produção e da vida brasileira estejam voltadas para fora. Já a análise de Sérgio Buarque de Holanda é mais culturalista, insistindo que a proximidade das relações sociais torna difícil constituir democracia e qualquer ordem mais racional no Brasil. Raymundo Faoro, por sua vez, usando categorias weberianas: acredita que um Estado patrimonialista, cuja origem remontaria a Portugal, oprimiria a sociedade. A postura de Gilberto Freyre é, porém, diferente da dos demais autores, ao encarar de maneira positiva o patriarcalismo que teria se formado na colônia e que estaria desaparecendo com a urbanização.

IHU On-Line - Neste atual momento, o que é o Brasil?
Bernardo Ricupero - O Brasil continua a ser um enigma, o que provavelmente faz com que ainda sintamos a necessidade de voltar aos autores que enfrentaram essa questão. Mas talvez a melhor sugestão seja mesmo a do Tom Jobim (8): “o Brasil não é para principiantes”.

IHU On-Line - Como você vê a influência do capitalismo nas lutas políticas ocorridas no Brasil nestes últimos anos?
Bernardo Ricupero - Como Caio Prado Jr., diria que o Brasil se forma no quadro do aparecimento do capitalismo como sistema mundial de produção de mercadorias. É este o “sentido” de nossa colonização: produzir, em grandes unidades trabalhadas pelo braço escravo, bens demandados pelo mercado externo. As principais determinações da vida brasileira continuam a se dar pelo capitalismo mundial, é verdade que transformado. Talvez o mais preocupante é que hoje o horizonte da formação da nação – algo tão presente para a maior dos autores com os quais trabalhei no livro – tenha se perdido...

IHU On-Line - Qual é a importância de retomarmos o pensamento de certos pesquisadores da sociedade brasileira, para a entendermos hoje?
Bernardo Ricupero - Retomo o que disse antes: nossa história é uma história feita sem rupturas com o passado. Assim, em boa medida nossos problemas também são os problemas do passado, com a agravante que não deixam de surgir novos. Nesses termos, as questões colocadas por Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Raymundo Faoro e Florestan Fernandes continuam, em boa medida, atuais. Ainda hoje, não podemos deixar de levar em conta problemas como a artificialidade de nossas instituições, os efeitos da proximidade de nossas relações sociais, a orientação da economia voltada para fora das necessidades de nossa população; questões essas que foram levantados por esses autores.

*Bernardo Ricupero é sociólogo graduado pela Universidade de São Paulo onde também realizou mestrado e doutorado em ciência política. É vice-presidente da Associação Editorial Humanitas, pesquisador do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Democratização e Desenvolvimento (NADD) e, também, é professor da USP. 

Notas:
(1) Francisco José de Oliveira Vianna foi um professor, jurista, historiador e sociólogo brasileiro, imortal da Academia Brasileira de Letras. Suas obras, versando sobre a formação do povo brasileiro, tem o mérito de ser das primeiras que tentaram abordar o tema sob um prisma sociológico e diferenciado. Entretanto, a crítica que hoje é feita diz do cunho eminentemente conservador das mesmas. Como jurista, especializou-se no Direito do trabalho, ramo então nascente no Brasil, que ajudou a consolidar, além de haver sido o organizador da legislação que criou o imposto sindical.

(2) Gilberto de Mello Freyre foi um sociólogo, antropólogo e escritor brasileiro. E considerado um dos grandes nomes da história do Brasil. Freyre estudou na Universidade de Columbia nos Estados Unidos, onde conheceu Franz Boas, sua principal referência intelectual. Seu primeiro e mais importante livro é Casa-grande & senzala, publicado no ano de 1933. Em 1946, Gilberto Freyre é eleito pela UDN para a Assembleia Constituinte e, em 1964, apoia o movimento cívico-militar que derruba João Goulart.

(3) Sérgio Buarque de Holanda foi um dos mais importantes historiadores brasileiros.  Publicou em 1945 e 1957, respectivamente, Monções e Caminhos e fronteiras, que consistem em coletâneas de textos sobre a expansão oeste da colonização da América Portuguesa entre os séculos XVII e XVIII. Viveu na Itália entre 1953 e 1955, onde esteve a cargo da cátedra de estudos brasileiros da Universidade de Roma. Em 1957, trabalhou na USP. O concurso para esta vaga motivou-o a escrever Visão do paraíso, livro que publicou em 1958, no qual analisa aspectos do imaginário europeu à época da conquista do continente americano. A partir de 1960, passou a coordenar o projeto da História Geral da Civilização Brasileira. Em 1962, assumiu a presidência do recém-fundado Instituto de Estudos Brasileiros. Entre 1963 e 1967, foi professor convidado em universidades no Chile e nos Estados Unidos e participou de missões culturais da Unesco em Costa Rica e Peru. Em 1969, num protesto contra a aposentadoria compulsória de colegas da USP pelo então vigente regime militar, decidiu encerrar a sua carreira docente. A revista IHU On-Line número 205 foi dedicada a uma análise, por meio de entrevistas, sobre a sua obra Raízes do Brasil.

(4) Caio da Silva Prado Júnior foi um historiador, geógrafo, escritor, político e editor brasileiro. As suas obras inauguraram, no país, uma tradição historiográfica identificada com o marxismo, buscando uma explicação diferenciada da sociedade colonial brasileira. Em 1942, publicou o clássico Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia, cujo objetivo inicial era traçar o quadro de evolução histórica brasileira. Inicial, pois seria dividida em partes, já visto que o primeiro livro versa sobre o período colonial, contudo, as outras partes jamais foram escritas pelo autor. Foi eleito deputado estadual pelo Partido Comunista Brasileiro (1945) e constituinte em 1946, tendo o seu mandato sido cassado quando da decretação da ilegalidade do partido.

(5) Raymundo Faoro foi um escritor, advogado, cientista político e historiador brasileiro. É autor de Os donos do poder, obra que aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção e burocracia no País, colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto isso foi superado em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política. Faoro conclui que o que se teve no Brasil foi um capitalismo politicamente orientado, conceito este de inspiração weberiana. Negando-se em atribuir um papel hipostasiado à economia com relação à política, Faoro no País uma forma pré-capitalista. Esta característica pré-capitalista, no entanto, ainda será entendida no interior do pensamento weberiano em que capitalismo é definido como uma aquisição racional de lucros burocraticamente organizada, diferente do capitalismo politicamente orientado em que tal aquisição será direcionada por interesses dos Estado e da sua concorrência com outros estados.

(6) Florestan Fernandes foi um sociólogo e político brasileiro. Nas obras em que defendeu, Florestan constrói a estrutura da tribo dos Tupinambá, já desaparecida na época, por meio de documentos de viajantes. Concluído o doutorado, Florestan passou a livre-docente da USP na cátedra de Sociologia I, e posteriormente, tornou-se catedrático. Devido ao seu engajamento na universidade, foi perseguido pela ditadura militar e foi cassado com base no Ato Institucional nº 5. Fugiu então em exílio, em 1969, para o Canadá, aonde assumiu lugar de professor de Sociologia na Universidade de Toronto.

(7) Celso Monteiro Furtado foi um importante economista brasileiro. Suas idéias sobre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento divergiram das doutrinas econômicas dominantes em sua época e estimularam a adoção de políticas intervencionistas sobre o funcionamento da economia. Na década de 1950, Furtado presidiu o CEPAL-BNDES, que elaborou um estudo sobre a economia brasileira que serviria de base para o Plano de Metas do governo de JK. Mais tarde, foi convidado pelo professor Nicholas Kaldor ao King`s College da Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde escreveu Formação econômica do Brasil, clássico da historiografia econômica brasileira. Retornando ao Brasil, assumiu uma diretoria do BNDE e participou da criação, em 1959, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Em 1962, no governo João Goulart, foi nomeado o primeiro Ministro do Planejamento, elaborando o Plano Trienal. Com o golpe militar de 1964, teve seus direitos políticos cassados por dez anos. De 1986 a 1988 foi o ministro da Cultura do governo José Sarney.

(8) Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. É considerado um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores do movimento da Bossa Nova. Tom Jobim é um dos nomes que melhor representa a música brasileira na segunda metade do século XX e é praticamente uma unanimidade entre críticos e público, em termos de qualidade e sofisticação musical.


Brasil o país dos desiguais (texto 1 - aula 3º´s)


Por Pochmann*

A enorme concentração da renda e da riqueza é marca registrada do país. O motivo da perversão distributiva é a correspondente concentração do poder. E, na raiz deste fator, está a fragilidade da democracia brasileira. Em cinco séculos de história, não somamos mais de quarenta anos de regime democrático.

Identificar renda e riqueza extremamente concentradas no Brasil não constitui nenhuma novidade. E dizer que isso representa uma herança secular, de difícil superação, tampouco adiciona algum grau de inovação ao já conhecido atualmente. Mas a compreensão das principais razões que produzem uma repartição tão desigual da renda e da riqueza, bem como sua reprodução nos dias de hoje, pode ser motivo de interesse. Especialmente quando se trata de investigar a viabilidade da formulação de medidas cabíveis para sua superação.

Da colonização aos dias de hoje, a riqueza social tem sido pessimamente repartida entre o conjunto da população. De acordo com o Atlas da exclusão social – os ricos no Brasil (Cortez, 2004), percebe-se a continuidade secular no grau de concentração, desde a data em que passa a haver algum registro contábil da riqueza no país. Ao longo do seu processo histórico, o Brasil percorreu distintas fases: Colônia (1500- 1822), Império (1822-1889), República (após 1889). Mas não houve modificação substancial de seu perfil distributivo. Apesar do aparecimento de novos personagens ricos, que se diferenciaram das famílias tradicionalmente assentadas na riqueza primário-exportadora, protagonizando o capitalismo industrial (1930-80) e a financeirização (em curso desde 1981), a desigualdade de renda permaneceu estável. Uma pequena parcela da população apropria-se de muito, enquanto a maior parte dos brasileiros fica com bem pouco.

PADRÃO EXTREMAMENTE CONCENTRADO

Em síntese, o Brasil caracteriza-se por construir um padrão extremamente concentrado de partição da renda e da riqueza.

Os dados disponíveis e confiáveis indicam a persistência estrutural do jogo da distribuição pessoal da renda e da riqueza, mesmo quando ocorre o aparecimento de novos jogadores. Os 10% mais ricos da população impõem, historicamente, a ditadura da concentração, pois chegam a responder por quase 75% de toda riqueza nacional. Enquanto os 90% mais pobres ficam com apenas 25%. Independentemente dos padrões de desenvolvimento econômico pelos quais o Brasil passou, prevaleceu a estabilidade na desigualdade de repartição da renda e da riqueza entre seus habitantes.

Essa situação se agravou ainda mais com o fim do ciclo de industrialização nacional (1930-1980), quando a fatia correspondente à renda do trabalho na composição da renda nacional encolheu substancialmente. Do final da década de 1970 à metade da primeira década do século XXI, a participação do rendimento do trabalho na renda nacional caiu quase 12 pontos percentuais. Simultaneamente, cresceu a porcentagem relativa às formas de riqueza associadas aos proprietários (lucros, juros, aluguéis, renda da terra).

A concentração da renda e da riqueza é uma marca inalienável do Brasil. De acordo com o Atlas citado, embora o país possua aproximadamente 60 milhões de famílias, 45% de toda a renda e a riqueza nacionais são apropriados por apenas 5 mil famílias extensas.

Esse descalabro – já dissemos – não é algo recente. Pelo contrário, vem sobrevivendo a todas as mudanças históricas: o rompimento com Portugal, o fim da escravidão, a passagem para a República. Vem sobrevivendo também à sucessão dos distintos ciclos econômicos. Tanto os ciclos primário-exportadores (pau-brasil, açúcar, ouro, café, borracha), que se prolongaram até o começo do século XX, quanto o desenvolvimento industrial-urbano subseqüente apenas modificaram as fontes da riqueza, mantendo praticamente intacta a concentração na distribuição dos frutos do crescimento econômico.

Desde 1980, com o abandono do projeto de industrialização nacional, tem avançado no país o ciclo da financeirização da riqueza, que traz em seu bojo o retorno ao modelo primário-exportador de matérias-primas e produtos agropecuários (agronegócios). Da mesma forma que os ciclos econômicos anteriores, o padrão distributivo segue inalterado, a não ser pelo aprofundamento da desigualdade de renda e riqueza. Entre 1980 e 2000, quando o crescimento econômico foi pífio, se tornou geograficamente mais concentrada ainda a presença dos ricos no Brasil. Atualmente, somente quatro cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte) concentram quase 80% de todas as famílias ricas do país.

Como explicar tal situação? A resposta talvez possa ser encontrada na estabilidade do conservadorismo no poder. Assim como a renda e a riqueza, o poder no Brasil encontra-se extremamente concentrado. Daí porque o país jamais ter vivido alguma experiência revolucionária. Levantes existiram, mas sempre massacrados pelas forças conservadoras. Mesmo a revolução burguesa terminou por não acontecer aqui. E as reformas civilizadoras do capitalismo contemporâneo também deixaram de ocorrer de maneira efetiva. Sem revoluções e sem reformas consideráveis, o padrão distributivo não seria modificado. A passagem de um modo de produção a outro mostrou-se inofensiva ao padrão excludente de repartição da renda e da riqueza.

O DESAFIO BRASILEIRO

Entre nós, a ausência de democracia consolidada parece ser a grande razão do conservadorismo e da concentração do poder. Em seus mais de cinco séculos de existência, o Brasil não contabilizou mais de quarenta anos de regime democrático. Pois é claro que não se pode chamar de democracia o que ocorria durante a fase imperial do século XIX e a República Velha (1889-1930). Tratava-se, isto sim, de um regime censitário, capaz de disponibilizar o voto tão somente para a população masculina com posses e renda: cerca de 1% da população!

Deve-se destacar ainda que o processo eleitoral não era secreto. Somente a partir da década de 1930, o Brasil avançou rumo à consolidação do voto universal e secreto, embora deixando de fora a população analfabeta. Mas, justamente nesse período, sobrevieram duas ditaduras, a do Estado Novo (1937-45) e a do regime militar (1964-85) – bem quando se definiu um novo pacto de poder favorável à industrialização (década de 1930) e quando o país registrou as maiores taxas de crescimento da renda (o “milagre econômico” de 1969-73).

Nos períodos em que autoritarismo predominou, os ricos foram favoravelmente beneficiados, mantendo-se inalterado o padrão distributivo excludente. Os apelos populares e progressistas em favor da melhor repartição dos frutos do crescimento econômico foram marginalizados do núcleo de poder. Nos períodos democráticos, a convergência para o desenvolvimento de um projeto revolucionário ou mesmo reformista foi sub-sumida pela administração das emergências e pelas articulações políticas entre distintos extratos de classes sociais, muitas vezes necessárias à governabilidade. Por conta disso, o encaminhamento das questões referentes à alteração do padrão distributivo ficou em segundo plano.

As ações de governo terminam se direcionando a tarefas de curto prazo, incapazes de alterar a estrutura de concentração dos agregados de renda e riqueza. Reciprocamente, a concentração do poder econômico e político impõe obstáculos profundos à gestão o país. O reacionarismo das elites que concentram o poder tem inviabilizado a concretização de reformas em um ambiente democrático. Na ausência de revolução e reformas, geralmente obstadas pelo conservadorismo, as políticas públicas ficaram no meio do caminho.

* Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.(CESIT) e Ex- Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Leia a íntegra do texto na fonte.

O que é Sociologia ? (1ª aula - Todas Turmas)

A Sociologia se ocupa de estudar a vida social humana, analisando as dinâmicas da sociedade como um todo e de segmentos que a compõem. É o campo do conhecimento que investiga as relações sociais entre diferentes grupos humanos, seus conflitos e conexões. Assim como o psicólogo se dedica a conhecer os elementos que regem o comportamento de um indivíduo, os sociólogos têm como missão compreender o funcionamento do comportamento coletivo.

A Sociologia nos ensina a observar o mundo a nossa volta sob um novo ângulo.
 Comportamentos e instituições que aparecem como naturais – como algo que sempre foi igual – aos olhos do sociólogo são fenômenos dotados de influências históricas e sociais. Aprende-se que algumas coisas que percebemos como experiências individuais, na verdade são ações influenciadas pelo meio social em que crescemos e vivemos. As formas como refletimos essas profundas influências é objeto de estudo da Sociologia. A primeira vista, essa abordagem parece nos destituir de autonomia sobre nossas ações, mas a verdade é que ocorre o contrário. Ao conhecer as forças sociais que atuam sobre a nossa vida, ganhamos mais liberdade para tomar decisões de forma consciente.

Essa operação – em que deixamos de lado as aparências imediatas das coisas para compreender o contexto amplo em que estão inseridas – é o que chamamos de imaginação sociológica. O que fazemos ou deixamos de fazer diz muito sobre o ambiente social que habitamos.

Com a diversidade de culturas e de grupos sociais que temos no mundo, é necessário que a Sociologia acolha uma imensidade de temas. Alguns desses temas centrais, que irão definir as áreas de pesquisa dos sociólogos, são: a política, o trabalho, a economia, a religião, a educação, as etnias, a pobreza, as classes sociais, a ecologia, a comunicação e a mídia, os crimes e o sistema punitivo, o convívio entre diferentes gerações, o gênero e a sexualidade, os movimentos sociais e muitos outros. Essas áreas de pesquisa nem sempre são homogêneas, pois englobam diferentes interpretações e formas de abordar os fenômenos sociais, fazendo da Sociologia uma disciplina bastante vasta e envolvente.

Bibliografia: GIDDENS, Anthony. Sociologia, 2005.

Objetivos Gerais no Ensino da Sociologia*


Principal
Contribuir para desenvolver as habilidades cognitivas (processo mental de percepção, raciocínio) para compreender a seguinte distinção: a diferença entre o que as pessoas, grupos ou governos definem como problema social e o que os sociólogos chamam de problema sociológico. Na definição do problema social, estamos diante da realidade cotidiana do cidadão.

Secundário
Adquirir o necessário distanciamento da percepção do senso comum. Isto implica desenvolver uma atitude de “estranheza” frente às práticas da vida cotidiana trazendo, como consequência, a “desnaturalização” das concepções rotineiras de realidades sociais, permitindo que se possa desenvolver uma nova visão, de natureza sociológica, reconhecendo em nossas ideias comuns sobre a vida social a marca do viés próprio a cada cultura e as condições do tempo histórico em que se situam.
Apresentar conceitos, teorias e doutrinas que fornecem a identidade da Sociologia vista como disciplina científica. É neste celeiro teórico, especialmente o dos autores clássicos, que iremos buscar as ferramentas que auxiliam na formação de uma atitude de distanciamento cognitivo  em relação ao mundo em que estamos imersos.

* Objetivos segundo o Parâmetro Nacional Curricular da Sociologia para o ensino médio.